segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Gizmodo Brasil

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Como um algoritmo médico nos EUA era preconceituoso com pacientes negros

Posted: 27 Oct 2019 01:56 PM PDT

Um algoritmo de assistência médica utilizado em hospitais nos Estados Unidos tem discriminado pacientes negros, como mostra uma nova pesquisa. O estudo descobriu que o algoritmo priorizava de forma consistente pacientes brancos que não sofriam de doenças graves e eliminava pacientes negros de um programa destinado a ajudar pessoas que precisavam mais de cuidado intensivo.

Algoritmos preditivos passaram a ser utilizados em muitas áreas, incluindo cuidados de saúde. Porém, muitas pesquisas mostraram que essas IAs podem ter algum viés, mesmo que tenham sido criados para serem “neutros”. Esses vieses existem até mesmo na medicina, onde a discriminação racial e de gênero é sistemática.

Algoritmos costumam ser caixas-pretas

De acordo com os autores do novo artigo, no entanto, pesquisadores raramente têm oportunidade de estudar de perto como e por que o viés pode se infiltrar nesses algoritmos. Muitos algoritmos são proprietários, o que significa que os detalhes exatos de como eles foram programados — incluindo as fontes de dados usadas para treiná-los — estão fora dos limites para a análise de cientistas independentes. Não foi o caso nesse estudo, publicado na quinta-feira (24) na revista Science.

Os autores analisaram dados de um algoritmo desenvolvido pela empresa Optum, amplamente utilizado em hospitais e centros de saúde dos EUA, incluindo o hospital onde alguns dos autores trabalhavam.

A inteligência artificial pretendia medir quais pacientes se beneficiariam mais do acesso a um programa de gestão de cuidados de saúde de alto risco. Entre outras coisas, o programa permitiria que esses pacientes tivessem uma equipe dedicada aos cuidados de saúde, com horários extra para consultas.

Quando eles compararam a pontuação de risco gerada pela IA com outras pontuações de saúde em seus pacientes, incluindo quantas doenças crônicas um paciente possui, descobriram que pacientes negros eram consistentemente subestimados.

O tamanho do problema

Sob a estimativa da IA, por exemplo, 18% dos pacientes que mereciam estar nesses programas seriam negros; mas os autores estimaram que o número real deveria estar mais próximo de 47%.

“Esse é um estudo extremamente importante que indica por que não devemos confiar cegamente na inteligência artificial para resolver nossos problemas sociais mais importantes”, disse Desmond Patton, cientista de dados da Escola de Serviço Social da Universidade de Columbia, que não estava envolvido na pesquisa, ao Gizmodo.

O processo de tomada de decisão da IA foi projetado para ser neutro em termos raciais. Os autores descobriram, no entanto, que outras suposições foram programadas com preconceitos contra os negros.

Uma variável chave estudada foi quanto dinheiro tinha sido gasto com cuidados de saúde dos pacientes antes do emprego da IA. Aqueles que tinham gerado mais despesa foram considerados prioritários para a participação da programa, nesse caso.

Os pacientes negros vão menos a consultas e recebem menos cuidados médicos em comparação a pacientes brancos, muitas vezes porque são mais pobres. Isso é agravado pelo fato de os pacientes negros geralmente irem ao hospital quando estão muito doentes, porque seus problemas de saúde crônicos não foram tratados. Vale notar, inclusive, que nos Estados Unidos não existe um sistema de saúde pública como o SUS brasileiro e muitas pessoas não têm dinheiro para custear tratamentos.

“O viés surge porque o algoritmo prevê a partir dos custos dos cuidados de saúde em vez das doenças em si. O acesso desigual à saúde significa que gastamos menos dinheiro cuidando de pacientes negros do que de pacientes brancos”, escreveram os autores.

Por que é importante analisar os algoritmos

Essas disparidades na medicina e noutros lugares não são exatamente um segredo. Mas se uma IA não está programada para contabilizá-las ou treinada com conjunto de dados vindos de grupos diferentes de pessoas, é provável que sejam ignoradas, de acordo com Atul Butte, pesquisador de informática biomédica da Universidade da Califórnia em São Francisco e cientista-chefe de dados do Sistema de Saúde da Universidade da Califórnia.

“A analogia que costumo usar é que ninguém ficaria confortável em entrar num carro autônomo que foi treinado apenas nas ruas de Mountain View”, disse Butte, que não estava envolvido na nova pesquisa, ao Gizmodo. “Nós realmente devemos ser cautelosos com algoritmos médicos treinados apenas com dados de uma pequena população ou de apenas uma raça ou etnia”.

As descobertas, de acordo com Jessie Tenenbaum, professora assistente de bioestatística e bioinformática da Duke University, também não envolvida no novo estudo, mostram por que é importante que cientistas e empresas externas trabalhem juntas para melhorar os algoritmos que são empregados no mundo real.

“Eu sou fã do uso de IA onde ela possa ser útil, mas vai ser impossível antecipar todas as maneiras que esses vieses podem surgir e afetar os resultados”, disse ela. “O que é importante, então, é pensar sobre como os dados tendenciosos poderiam afetar um determinado aplicativo, para verificar os resultados de tal viés, e sempre que possível usar métodos de IA que possam ser explicados — ou seja, que produza uma resposta do por que um algoritmo chegou àquela conclusão.”

“É inconcebível para mim que o algoritmo de outras empresas não sofram com isso”, disse ao Washington Post Sendhil Mullainathan, professor de computação e ciência comportamental da Booth School of Business da Universidade de Chicago. “Tenho esperança de que esse estudo faça com que toda a indústria pense: ‘Meu Deus, temos que consertar isso'”.

As agências reguladoras, como a Food and Drug Administration (FDA, equivalente à Anvisa), também devem aplicar proativamente um treinamento aprimorado desses algoritmos e exigir o compartilhamento transparente de dados das empresas que os produzem, disse Butte.

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Águias monitoradas por SMS voaram tão longe que deixaram conta imensa para pesquisadores

Posted: 27 Oct 2019 10:29 AM PDT

Águia-das-estepes voando

Um grupo de pesquisa na Rússia colocou chips de celular em uma série de águias para monitorá-las. Acontece que eles ficaram sem grana depois que as águias saíram da área de cobertura da operadora escolhida e voaram para o Irã, gerando diversas mensagens de texto caríssimas. Os pesquisadores publicaram o relato do caso na rede social russa VK.

Os rastreadores colocados nas águias enviavam mensagens de texto para os pesquisadores com a localização atual. As águias voaram para o Cazaquistão em uma região sem cobertura de celular, o que acumulou uma série de mensagens não enviadas.

A equipe já esperava por isso e assumiu que as mensagens acumuladas seriam enviadas assim que as aves viajassem para uma região com sinal. E, de fato, a maioria das águias enviaram as mensagens de texto durante sua migração, passando por regiões cazaques e russas cobertas pelo plano de celular contrato pelos pesquisadores.

Porém, algumas águias foram para o Irã, que não fazia parte da área da operadora. Uma série de SMS acumulados, com dados de localização de meses, foram enviados quatro vezes por dia, cada uma custando cerca de R$ 3,09.

"🤦♀," escreveram os pesquisadores na rede social.

Mapa de voo das águias-das-estepesAs rotas das águias em 2019. Captura de tela: Russian Raptor Research and Conservation Network

O orçamento dos pesquisadores foi “completamente esgotado”, segundo eles. Para contornar o problema, a equipe inciou uma campanha de financiamento coletivo para recarregar os chips. Eles conseguiram arrecadar dinheiro o suficiente para o ano, de acordo com uma reportagem da AFP.

As aves eram águia-das-estepes, uma espécie de ave de rapina enorme com asas com envergadura de até 2 metros, que se reproduzem em savanas abertas, desertos e estepes da Ásia Central. Quando não estão em temporada de acasalamento, as águias ficam no sul da Ásia e na África.

Elas comem principalmente carniça e são uma espécie carismática da Ásia; até figuram na bandeira do Cazaquistão. Infelizmente, estão ameaçadas à medida que os países transformam seus habitats nativos em terras agrícolas.

Águia-das-estepes com chip instaladoAs águias-das-estepes com o chip. Imagem: VK

A Russian Raptor Research and Conservation Network foi fundada em 2011 para proteger espécies russas de aves de rapina e corujas ameaçadas de extinção. As principais espécies monitoradas pelo grupo são o falcão-sacre e a águia-das-estepes, cujas áreas de ocupação diminuíram drasticamente nas últimas décadas, embora também monitorem a águia-gritadeira, águia-rabalva, águia-imperial-oriental e o bufo-real.

Parece que as empresas de telecomunicações da Ásia poderiam se unir para criar um novo plano de SMS específico para as aves.

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Passei um mês usando o Galaxy Fold e curti a experiência

Posted: 27 Oct 2019 08:42 AM PDT

Samsung Galaxy Fold de frente, ligeiramente dobrado

Depois de termos visto o ambicioso porém desajeitado Royole Flexpai, o Samsung Galaxy Fold deveria ser o redentor dessa nova tecnologia, um dispositivo que mostrasse o poder dos aparelhos dobráveis.

Aí, a Samsung enviou o Galaxy Fold para analistas de tecnologia que encontraram uma série de defeitos, o que significou que o aparelho precisou ter o lançamento adiado para que algumas melhorias fossem realizadas.

No dia 27 de setembro, o Fold começou a ser vendido oficialmente nos Estados Unidos. Eu tenho usado o aparelho desde então – sem nenhuma capinha, nem película. Compartilho aqui as minhas impressões após usá-lo durante um mês.

Apesar dos cinco meses que foram preciso para ajustar e reequipar o Fold antes de colocá-lo no mercado, o dispositivo final não parece muito diferente do modelo original que tinha vários problemas.

A Samsung adicionou uma placa de aço atrás da tela flexível para dar mais rigidez ao aparelho. E na parte de software, a maior mudança ficou nos botões de navegação do Android, deslocados para a direita para facilitar o uso com uma mão – o que faz uma diferença significativa. (Os canhotos não precisam se preocupar, há uma opção para mover os botões de navegação para o outro lado da tela.)

Detalhe do espaço entre a dobradiça e a tela do Galaxy FoldFoto: Sam Rutherford/Gizmodo

O mais importante, no entanto, foi a Samsung diminuir o espaço entre as telas e sua dobradiça, para impedir que poeira entrasse ali. E isso funcionou bem. Durante esse tempo que usei o Fold, não encontrei nenhuma sujeita dentro ou de baixo da tela. Mesmo com a poeira que muitas vezes fica em cima de tela depois de deixá-lo fechado por um tempo, não rolou nenhum problema.

Quanto às bordas da película de polímero que foi colocada ao redor da tela do Fold (e que algumas pessoas removeram, fazendo com que o display quebrasse), foram estendidas para que chegassem até as bordas, longe de dedos curiosos.

Tela do Galaxy FoldUma foto da tela do Fold com um fundo preto, para não esconder nenhum defeito. Foto: Sam Rutherford/Gizmodo

As mudanças na construção não tornaram o Fold muito resistente. É possível riscar a tela usando as unhas, ele não é resistente à água e mesmo com proteção adicional contra poeira, a dobradiça talvez não suporte uma praia, por exemplo.

Isso parece bem ruim, mas o Fold tem basicamente a mesma durabilidade de laptops com telas mais delicadas. Você não levaria um laptop para a praia, e mesmo que levasse, não ia deixar ele na areia.

Detalhe do vindo da tela do Galaxy FoldUm outro ângulo da tela. Foto: Sam Rutherford/Gizmodo

As outras duas coisas que as pessoas costumam se preocupar – o vinco na tela e a resistência da dobradiça – não apresentaram grandes problemas. Quando você olha diretamente para o Fold, o vinco é praticamente invisível. E quando se trata da dobradiça do aparelho, dá para dizer que esse é provavelmente o componente mais resistente de todo o dispositivo.

Se você não liga para essas limitações, terá em mãos um dos dispositivos multiuso mais envolventes do planeta. Só de poder assistir a vídeos em uma tela grande de 7,3 polegadas no metrô, parece que o tempo passa muito mais rápido. O Fold também é uma ótimo companheiro para a academia, já que sua tela é melhor do que qualquer coisa que você vai encontrar em uma esteira ou bicicleta ergométrica.

A tela externa do Galaxy FoldA tela do Fold quando está dobrado precisa ser maior. Foto: Sam Rutherford/Gizmodo

O Fold também deu uma aposentada no meu Kindle e no meu tablet, já que a tela tem o tamanho perfeito para ler livros ou quadrinhos. E graças a autonomia de bateria ridiculamente boa e os 512 GB de armazenamento, parece que o Fold nunca precisa de acessórios como powerpacks ou cartão microSD. Que se dane os caríssimos celulares da Vertu, o Galaxy Fold é um verdadeiro luxo.

Apesar disso, o Fold ainda tem muito espaço para melhorias. Torná-lo um pouco mais leve facilitaria segurá-lo por mais tempo. E apesar de nunca ter sido um problema para mim, ser um pouco mais fino também não seria ruim. Também gostaria de ver a Samsung eliminar o entalhe na parte interna do aparelho – as pessoas poderiam tirar selfies com a câmera acima da tela externa, por exemplo.

E já que falei da tela externa, ela tem apenas 4,6 polegadas. Dá para aumentar e tem bastante espaço extra em cima e em baixo, até mesmo dos lados. Do jeito que está, mesmo quando você está usando a tela externa “do jeito certo” apenas para dar uma olhada nas notificações e responder rapidinho uma mensagem, digitar no teclado minúsculo é bem frustrante.

Traseira do Galaxy FoldFoto: Sam Rutherford/Gizmodo

Agora eu admito: para muitas pessoas, nada disso importa até que o preço do Fold (ou o preço de seus sucessores) abaixe e as fabricantes passem a usar vidro flexível em vez de plástico (um dos rumores para o Galaxy Fold 2).

Entretanto, acho uma boa ideia manter a mente aberta para esses dispositivos. Você pode não querer um Galaxy Fold agora, mas eu não ficaria surpreso de ver smartphones dobráveis representar 20% a 25% das vendas de novos celulares nos próximos cinco anos.

O Galaxy Fold é perfeito? Não, longe disso. Mas durante o mês passado, ele mostrou um enorme potencial.

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Novas evidências sugerem que Neandertais eram capazes de fazer fogo

Posted: 27 Oct 2019 05:52 AM PDT

Os Neandertais costumavam usar fogo regularmente, mas os arqueólogos não têm certeza se os hominídeos extintos eram capazes de começar o fogo ou se as chamas provinham de fontes naturais. Novas evidências geoquímicas sugerem que os Neandertais possuíam de fato a capacidade cultural de atear fogo e fazer churrascos paleolíticos.

Fico envergonhado em admitir, mas se eu estivesse perdido na natureza e precisasse de fogo, é bem provável que iria passar frio, a menos que tivesse um isqueiro ou um fósforo. Na verdade, a capacidade de conjurar chamas ainda me parece mágica – então, imagina o que a capacidade de fazer fogo do nada deveria significar para os primeiros humanos.

Em algum momento, nossos antepassados aproveitaram o poder do fogo para se aquecerem, cozinhar alimentos, produzir novos materiais, afastar predadores e iluminar cavernas escuras. E, é claro, ele permitiu que se formasse uma ligação social: o círculo da fogueira.

As evidências

Evidências arqueológicas sugerem que hominídeos de vários tipos usavam fogo já há 1,5 milhão de anos, mas ninguém realmente sabe como eles adquiriram esse fogo. Essa habilidade muda alguns paradigmas – tanto a habilidade de iniciar intencionalmente o fogo, como controlá-lo. Conhecida como pirotecnia, ela é tradicionalmente considerada o domínio exclusivo de nossa espécie, Homo sapiens.

Mas como novas evidências apresentadas esta semana na Scientific Reports sugerem, os Neandertais tinham a capacidade de fazer o próprio fogo. Usando evidências de hidrocarbonetos e isotópicos, pesquisadores da Universidade de Connecticut demonstraram que alguns Neandertais que usavam fogo tinham pouco contato com incêndios florestais, então a única maneira possível de ter fogo era fazê-lo.

“Presumia-se que o fogo era de domínio do Homo sapiens, mas agora sabemos que outros humanos antigos como Neandertais poderiam criá-lo”, disse Daniel Adler, co-autor do novo estudo e professor associado de antropologia da Universidade de Connecticut, em um comunicado à imprensa. “Então, talvez não sejamos tão especiais assim”.

Sabemos que os Neandertais e outros hominídeos usaram o fogo com base em evidências arqueológicas como fossas de fogo e ossos de animais carbonizados. Há evidências que mostram que os Neandertais tinham os materiais necessários para criar fagulhas – a evidência, no caso, são blocos de dióxido de manganês (raspas deste material podem ajudar na produção de fogo, uma vez que pode ser incendiado a temperaturas mais baixas em comparação com outros materiais).

Dito isso, evidências concorrentes da França ligavam o uso do fogo pelos Neandertais a períodos mais quentes, quando as florestas são densas com material inflamável e quando as probabilidades de ocorrência de raios são fatores de maior importância para determinar a probabilidade de incêndios florestais. Essa e outras evidências têm sido usadas para afirmar que os Neandertais não eram capazes de fazer fogo, pois seria fácil para eles pegarem as chamas a partir de arbustos incendiados naturalmente.

O método

Para o novo estudo, Adler e seus colegas procuraram testar essa hipótese, ou seja, determinar se o uso do fogo entre os Neandertais poderia realmente ser correlacionado com a ocorrência de incêndios naturais.

Um componente crítico dessa pesquisa é uma molécula chamada hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs). Os PAHs são liberados quando os materiais orgânicos são queimados e podem fornecer um registro de fogo ao longo de escalas temporais geológicas.

Eles também vêm em duas variedades: leves e pesados. O tipo leve, as LPAHs, podem percorrer grandes distâncias, enquanto o tipo pesado, as HPAHs, permanecem concentradas.

Para o estudo, os pesquisadores analisaram os LPHAs encontrados dentro da Caverna Lusakert 1 na Armênia – uma conhecida caverna de Neandertais – como evidência do uso do fogo, e os HPHAs encontrados fora da caverna como evidência de incêndios florestais.

Os cientistas também analisaram dados isotópicos obtidos de plantas fossilizadas, especificamente da cera encontrada nas folhas, para determinar como eram as condições climáticas na época.

Foram analisadas 18 camadas sedimentares da Caverna Lusakert 1, num período de 60 mil a 40 mil anos atrás. Os HPHAs nestas camadas, juntamente com outros dados arqueológicos, apontaram para o uso prolongado do fogo pelos Neandertais na caverna.

Durante o mesmo período, entretanto, incêndios fora da caverna foram raros. Além disso, os dados isotópicos não apontavam para nada particularmente incomum em termos de condições ambientais favoráveis ao fogo, como aridez excessiva.

Isso levou os autores a “rejeitar a hipótese” de que o uso do fogo entre os neandertais era “baseado em sua ocorrência natural no ambiente regional”, segundo o artigo. As novas evidências apontam para o “uso habitual” do fogo por Neandertais “durante períodos de baixa frequência de incêndios”, como escreveram os autores do estudo.

O químico e co-autor do estudo Alex Brittingham descreveu a descoberta dizendo que “parece que [os Neandertais] foram capazes de controlar o fogo fora da disponibilidade natural dos incêndios.”

Os poréns

Um desafio enfrentado pelos pesquisadores foi pegar todos esses dados e mantê-los dentro do mesmo período de tempo.

“Em um contexto arqueológico como o que encontramos na caverna Lusakert, somos obrigados a responder a todas as perguntas em períodos de tempo mais longos”, disse Brittingham em um e-mail ao Gizmodo. “Assim, todos os dados que apresentamos nesta publicação, quer se trate do clima a partir das ceras foliares, dos dados de incêndio dos PAHs, ou dos dados sobre a ocupação humana a partir da análise lítica, levam em consideração a média temporal. Assim, quando comparamos esses conjuntos de dados independentes, os comparamos entre diferentes camadas estratigráficas identificadas”.

Apesar disso, é importante notar que o estudo apresenta evidências indiretas que apoiam a ideia de que os Neandertais dominavam a pirotecnia, em oposição a evidências diretas, como os blocos de dióxido de manganês ou outras pistas anteriores. Mais evidências serão necessárias que essa nova hipótese se fortaleça, mas o estudo já dá um bom passo nessa direção.

Outra limitação potencial dessa pesquisa é a possibilidade de que os materiais sedimentares tenham se deslocado ao longo dos anos, ou se degradado ou diluído por meio dos processos de erosão.

“No entanto, dada a boa preservação de outros hidrocarbonetos no local, não acreditamos que isso seja um problema”, disse Brittingham ao Gizmodo.

O fato de os Neandertais terem tido a capacidade de criar fogo não seria um grande choque. Esses hominídeos demonstraram a capacidade de pensar abstratamente, como mostram suas pinturas rupestres. Eles também forjaram ferramentas e fabricaram a própria cola, então eram bastante criativos.

Além disso, conseguiram sobreviver em grande parte da Eurásia durante 360 mil anos. A ideia de que eles sobreviveram por tanto tempo sem a capacidade de criar fogo ou que a sua extinção estava de alguma forma ligada à falta de capacidade pirotécnica parecem ser as conclusões mais improváveis.

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