domingo, 20 de setembro de 2020

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Astrônomos podem ter encontrado o primeiro planeta a orbitar uma estrela anã branca

Posted: 19 Sep 2020 02:02 PM PDT

Uma imagem conceitual de um planeta na órbita de sua estrela anã branca. Crédito: NASA/JPL

A descoberta de um planeta do tamanho de Júpiter que orbita em torno de uma estrela anã branca sugere que é possível para os planetas sobreviverem ao impacto causado pela morte de suas estrelas-mãe. Uma anã branca é como os cientistas chamam a densa sobra de matéria deixada por um núcleo estelar após a sua morte.

Imagine uma estrela do tamanho da Terra, quase no fim de sua vida, com um planeta gigantesco do tamanho de Júpiter orbitando ao seu redor a cada 34 horas. Seria uma visão bizarra, com o objeto menor e mais denso, aparentemente no controle da condição especial visualmente incompatível. Para se ter uma ideia de como esse sistema estelar pareceria estranho, uma anã branca pode caber dentro da Grande Mancha Vermelha de Júpiter.

“É a primeira descoberta clara de um planeta orbitando uma anã branca", disse Ian Crossfield, professor assistente de física e astronomia da Universidade do Kansas e co-autor do estudo que identificou o sistema estelar. A pesquisa, publicada na revista Nature, foi liderada pelo astrônomo Andrew Vanderburg, da Universidade de Wisconsin-Madison.

Em 2015, um outro estudo divulgado na Nature liderado por Vanderburg registrou a descoberta de um pequeno planeta, ou possivelmente um asteróide, que foi destruído por seu hospedeiro anão branco. A nova descoberta, no entanto, é uma novidade justamente porque o planeta em questão é muito maior e está em uma órbita bastante estável.

Quem nunca buscou assuntos relacionados ao universo com certeza fica horrorizado ao saber sobre o destino do nosso sistema solar. Daqui a alguns bilhões de anos, o nosso Sol começará a ficar sem combustível, fazendo com que se transforme em uma enorme esfera vermelha. No processo, todos os planetas do Sistema Solar – incluindo a Terra – serão devorados por nossa estrela, agora inchada e agonizante. Uma vez que esta fase esteja completa, o Sol encolherá em uma anã branca – uma orbe de tamanho aproximado ao da Terra, mas contendo metade da massa do nosso Sol atual. Tecnicamente ainda uma estrela, a anã branca emitirá um pouco de calor e luz enquanto continua a esfriar, embora não seja mais capaz de conduzir fusão nuclear.

Esse tem sido e será o destino de milhões de estrelas semelhantes em todo o cosmo. Os astrônomos não tinham certeza se os planetas, especialmente os planetas externos, são capazes de sobreviver a esse processo altamente perturbador, mas a nova pesquisa sugere que sim. E esta descoberta deve inspirar os astrônomos a pesquisar objetos semelhantes em torno de outras anãs brancas.

Para detectar o planeta chamado WD 1856b, os astrônomos usaram o método de trânsito testado e comprovado, junto com algumas varreduras infravermelhas do sistema. Usando o Telescópio Espacial Tess, da NASA, a equipe registrou o escurecimento da anã branca uma vez a cada 1,4 dias. Este escurecimento é um sinal potencial de um planeta em órbita, transitando na frente de uma estrela, a partir da nossa perspectiva na Terra. Isso foi confirmado com dados infravermelhos coletados pelo Telescópio Espacial Spitzer da NASA antes da aposentadoria do satélite, em janeiro passado.

Ao analisar este sistema em comprimentos de onda infravermelhos, os pesquisadores viram que era um planeta, e não outra estrela, em órbita ao redor da anã branca. "Estrelas mais quentes devem emitir muita luz infravermelha, enquanto planetas mais frios devem emitir menos. Não vimos luz infravermelha extra, o que ajudou a confirmar esta nova descoberta como um planeta real", disse Crossfield.

Uma imagem conceitual de um planeta na órbita de sua estrela anã branca. Crédito: NASA/JPL

Uma concepcão artística de uma estrela anã branca (menor) e seu planeta maior. Imagem: NASA/JPL-Caltech

Vários telescópios terrestres também foram recrutados para confirmar essas observações, visto que o brilho de uma estrela próxima havia confundido os dados do TESS.

Os autores especulam que o WD 1856b sobreviveu à transformação de sua estrela em uma gigante vermelha devido à grande distância entre os dois objetos. "O planeta não poderia ter sobrevivido se tivesse começado onde o vemos agora: deve ter orbitado muito mais longe da estrela. Mais tarde, depois que a estrela se tornou uma anã branca, o planeta deve ter se aproximado da estrela", explicou Crossfield.

Simulações feitas pelos pesquisadores sugerem que este é um cenário provável: enquanto a gigante vermelha devorava os planetas internos, a órbita de WD 1856b ficou desestabilizada, fazendo com que ele entrasse em uma órbita altamente elíptica, levando o planeta tanto para perto quanto para longe da morte de sua estrela-mãe. Esta órbita encolheu ao longo das escalas de tempo cosmológicas, colocando o planeta em sua atual órbita circular – e, consequentemente, o livrando da extinção.

"Achamos que esta estrela morreu e se tornou uma anã branca há cerca de 6 bilhões de anos. Em um tempo que nem o Sol, a Terra e o sistema solar ainda haviam sido formados", disse.

Perguntamos a Crossfield se é possível que a estrela moribunda tenha capturado um planeta rebelde, seja durante na fase de gigante vermelha ou anã branca. Um estudo recente sugere que trilhões de planetas podem estar avançando pela Via Láctea, sem estarem atrelados a uma estrela central.

No caso do WD 1856b, o planeta está em uma órbita bastante estável e razoavelmente perto da gente: a 80 anos-luz da Terra, então deve ser possível para os cientistas estudá-lo nos próximos anos. As únicas coisas conhecidas sobre este planeta são seu tamanho (aproximadamente o tamanho de Júpiter, mas poderia ser maior), seu período orbital (um dia dura 34 horas) e temperatura bem abaixo de zero. Observações futuras poderiam “nos dizer mais sobre do que é feito, como se formou e talvez como chegou onde o vemos hoje”, disse Crossfield.

Uma informação adicional interessante: as anãs brancas passam por outras transformações, tornando-se anãs marrons ainda mais escuras e, eventualmente, anãs negras, que não emitem mais calor ou luz. Como uma pesquisa recente sugere, a maior estrela dessas anãs negras acabará explodindo como uma supernova, mas isso não acontecerá até trilhões e trilhões de anos a partir de agora.

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Novas evidências sugerem que humanos não caçaram rinocerontes lanosos até a extinção

Posted: 19 Sep 2020 11:42 AM PDT

Um esqueleto de rinoceronte lanoso. Crédito: Fedor Shidlovskiy

Novas evidências genéticas sugerem que o clima mais quente foi o responsável por matar os rinocerontes lanudos no final da última era glacial. Até então, cientistas acreditavam que a extinção da espécie se deu pela caça excessiva de humanos contra o animal.

Com ursos das cavernas, felinos dente-de-sabre, mamutes peludos, preguiças gigantes e lobos selvagens, o Pleistoceno – época do Período Quaternário que ocorreu entre 1,8 milhão a 11 mil anos atrás – foi a casa de várias espécies gigantescas e que hoje existem apenas na memória. E, claro, havia o rinoceronte lanoso (Coelodonta antiquitatis), uma versão desgrenhada dos animais com chifres a que estamos acostumados hoje.

Pesando mais de 2 mil kg e apresentando uma saliência gigantesca no ombro, esses herbívoros impressionantes ocuparam um vasto território que se estendia da Europa Ocidental ao norte da Ásia. O reinado dos rinocerontes lanudos, que durou milhões de anos, chegou a um fim abrupto há cerca de 14 mil anos, com a Sibéria sendo o local final de sua longa permanência na Terra.

A caça excessiva de humanos e o fim da última era glacial são as duas causas tipicamente atribuídas à sua morte, embora falte um entendimento completo das razões de sua extinção. Agora, novas evidências genéticas publicadas na Current Biology têm dado um novo olhar a este período tumultuado da história evolutiva do nosso planeta, mostrando que, na verdade, foi a mudança climática que pôs fim a esta espécie.

Reconstrução artística de rinoceronte lanoso. Crédito: Wikimedia Commons

Reconstrução artística de rinoceronte lanoso. Imagem: Wikimedia Commons

Os pesquisadores Edana Lord e Nicolas Dussex, do Centro para Paleogenética – um empreendimento conjunto entre a Universidade de Estocolmo e o Museu Sueco de História Natural -, sequenciaram os genomas de 14 rinocerontes lanudos, extraindo DNA de amostras preservadas de tecido, osso e cabelo. A equipe desenvolveu estimativas do tamanho da população de rinocerontes lanosos ao longo do tempo sequenciando um genoma nuclear completo e reunindo mais de uma dúzia de genomas mitocondriais. Esta dúzia de genomas forneceu uma estimativa do tamanho da população feminina da espécie.

Combinados, os dados genéticos ofereceram uma estimativa de rinocerontes lanosos que viveram na Terra entre 29 mil a 18,5 mil anos atrás. Como os autores mostram no estudo, a população de rinocerontes lanosos era notavelmente estável e diversa nos milhares de anos que antecederam sua extinção. Os novos dados sugerem que esses animais estavam longe de serem varridos do planeta, milênios antes do fim da última era do gelo.

"Na verdade, não vemos uma diminuição no tamanho da população após 29 mil anos atrás", explicou Lord em um comunicado à imprensa da Cell Press. "Os dados que examinamos vão até 18,5 mil anos atrás, o que é aproximadamente 4,5 mil anos antes de sua extinção. Logo, isso implica que eles diminuíram em algum momento nessa lacuna de tempo", completou.

Rinoceronte lanoso. Crédito: Sergey Fedorov

Um rinoceronte lanudo bem preservado. Imagem: Sergey Fedorov

"Isso não é algo que sabíamos antes e indica que o declínio que levou à extinção aconteceu bem próximo ao desaparecimento final da espécie", explicou Love Dalén, autor sênior do estudo e geneticista evolucionista do Centro para Paleogenética.

A nova análise de DNA também revelou que a espécie tinha adaptações especiais ao frio, como uma capacidade aprimorada de sentir as temperaturas quentes e frias. Esses animais também exibiam maior diversidade genética do que os mamutes lanudos e os rinocerontes que existem hoje.

No entanto, os dados não se encaixam com a noção de que os caçadores humanos da era do gelo levaram os rinocerontes peludos à extinção. Os humanos, como estamos aprendendo, eram ativos no norte da Ásia há cerca de 30 mil anos, muito antes do desaparecimento desta espécie. Além disso, a aparente estabilidade dos rinocerontes lanosos durante o período sugere que os humanos desempenharam um papel menor, senão desprezível, em sua morte.

"Descobrimos que, depois de um aumento no tamanho da população no início de um período de frio, há cerca de 29 mil anos, o tamanho da população de rinocerontes lanosos permaneceu constante e que, neste momento, a consanguinidade era baixa", explicou Dussex no comunicado à imprensa.

O fato de a consanguinidade (que é o grau de parentesco entre indivíduos) ser baixa é bastante revelador, já que a falta de diversidade genética é um sinal revelador de uma espécie com grandes problemas. Claro, é possível que os humanos ainda tenham desempenhado um papel em sua extinção, mas Dalén acha que é improvável.

"De certa forma, acho que não é muito surpreendente que não vejamos um efeito da chegada humana. Um animal de duas toneladas, com um chifre de 1,5 metro e mau humor, talvez não seja algo que os humanos paleolíticos gostariam de cutucar com uma lança", disse Dussex.

De fato, este artigo levanta um ponto importante: que os humanos são frequentemente culpados pelas extinções que aconteceram no final do Período Paleolítico Superior. Para os grupos minúsculos de humanos que lutavam para sobreviver ao ambiente hostil da era do gelo, parece exagero sugerir que eles poderiam exterminar espécies inteiras de herbívoros gigantes, sejam rinocerontes ou mamutes peludos. Dalén concorda.

"Pessoalmente, acho improvável que os humanos daquele período tivessem a capacidade de caçar uma espécie até a extinção, exceto em pequenas ilhas. O principal motivo é que, uma vez que uma presa favorita se torna rara, os predadores tendem a mudar para outra espécie. Além disso, para os animais maiores, como rinoceronte e mamute, me parece que o risco e a dificuldade de caçar esses animais seriam grandes demais para serem feitos em escala 'industrial'", afirmou o pesquisador.

Os restos preservados e reconstruídos de um bebê rinoceronte chamado Sasha, descoberto na Sibéria. Crédito: Fedor Shidlovskiy

Os restos preservados e reconstruídos de um bebê rinoceronte chamado Sasha, descoberto na Sibéria. Imagem: Fedor Shidlovskiy

Dito isso, sabemos que os primeiros humanos na Sibéria caçavam herbívoros menores, como bisonte-da-estepe, renas e boi-almiscarado.

"Embora eu não ache que os humanos sozinhos poderiam ter levado isso à extinção, certamente parece plausível que uma combinação da caça humana e a mudança ambiental impulsionada pelo aquecimento do clima pudesse ter levado à extinção de algumas espécies", disse Dalén.

Quanto a como a mudança do clima tornou a vida tão difícil para o rinoceronte lanudo, essa continua sendo uma questão sem resposta. O aquecimento das temperaturas entre 14,7 mil e 12,9 mil anos atrás resultou no aumento da precipitação. "Minha hipótese é que a mudança na precipitação pode ter sido um elemento decisivo, já que pode ter levado tanto ao aumento da umidade no verão, resultando em mais pântanos, quanto ao aumento da cobertura de neve no inverno, tornando mais difícil encontrar comida", explicou.

Para trabalhos futuros, a equipe gostaria de adquirir mais DNA para ampliar os estudos dessa lacuna entre 18 mil e 14 mil anos atrás – claramente uma época em que algo bastante infeliz começou a acontecer com os rinocerontes lanosos.

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Mulheres grávidas com coronavírus têm mais chances de sofrer parto prematuro

Posted: 19 Sep 2020 09:18 AM PDT

Grávidas com covid-19 têm mais chances de sofrer parto prematuro. Lillian Suwanrumpha (Getty Images)

Uma nova pesquisa publicada pelo Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, elevou o nível de atenção para mulheres agora nos tempos de covid-19. O estudo descobriu que, além de serem mais suscetíveis a desenvolver sintomas graves, mulheres grávidas com coronavírus têm maior probabilidade de ter parto prematuro ou sofrerem um aborto espontâneo, em comparação com mulheres sem a doença.

Publicada no Relatório Semanal de Morbidez e Mortalidade do CDC (MMWR) na última quarta-feira (16), a pesquisa analisou os registros médicos de quase 600 mulheres grávidas, com idades entre 18 e 45 anos e que foram diagnosticadas com covid-19 em algum momento entre março e agosto deste ano. As pacientes ficaram internadas em hospitais espalhados em 14 estados dos EUA.

Entre as mulheres com informações médicas disponíveis, a maioria foi hospitalizada inicialmente por outros motivos que não eram covid-19 – grande parte dos sintomas estava relacionada à gravidez ou ao parto. No entanto, pouco menos da metade desenvolveu sintomas de infecção viral.

Daquelas com sintomas de coronavírus, 16% passaram a necessitar de cuidados intensivos, 8% de ventilação mecânica invasiva e duas mulheres morreram. Como outras pesquisas já haviam sugerido, havia uma disparidade racial: mulheres negras e de origem hispânica foram mais propensas a serem hospitalizadas com covid-19 do que mulheres brancas.

No que diz respeito à gravidez em si, cerca de 12% das mulheres com covid-19 tiveram parto prematuro – maior do que a taxa de 10% de parto prematuro observada na população em geral. A taxa de nascimento prematuro foi ainda maior para mulheres sintomáticas, com 23%. Mulheres sintomáticas e assintomáticas também tiveram aborto espontâneo, com uma taxa geral de 2,2%. Dois recém-nascidos morreram logo após o nascimento, ambos nascidos de mulheres que estavam em ventilação mecânica devido ao covid-19.

Pesquisas iniciais sugeriram que mulheres grávidas e seus filhos não apresentavam riscos provocados pela covid-19, em comparação com o público em geral. No entanto, apesar de parecer improvável que o coronavírus seja perigoso para um feto em desenvolvimento da mesma forma que outros vírus, como o Zika, mais pesquisas apontam para um risco muito real de complicações graves para as gestantes e suas crianças.

Dito isso, este estudo sozinho não pode mostrar diretamente que mulheres grávidas têm mais risco de sofrer sintomas graves por covid-19 do que as demais pessoas. Contudo, cerca de uma em cada quatro mulheres hospitalizadas com com a doença estava grávida, entre aquelas com informações conhecidas sobre seu estado de gravidez, indicando ainda que a gestação pode ser um fator de risco adicional pela covid-19. Os próprios recém-nascidos prematuros são mais suscetíveis a outras complicações ou doenças graves caso contraiam o covid-19.

Pesquisadores ainda observam que, embora a transmissão do vírus no útero seja considerada improvável, houve relatos de transmissão logo após o nascimento.

O CDC já adicionou a gravidez a uma lista de condições de saúde conhecidas que podem aumentar o risco de covid-19 em sua forma grave. E os autores do estudo sugerem que precauções adicionais sejam tomadas para manter as mulheres grávidas e seus bebês protegidos contra a doença viral.

"Essas descobertas destacam a importância de prevenir e identificar covid-19 em mulheres grávidas. Elas devem evitar contato próximo com pessoas infectadas pelo vírus ou sob suspeita de infecção, manter pelo menos dois metros de distância das pessoas que não sejam da família e tomar medidas preventivas gerais, incluindo o uso de máscaras e higienizar as mãos com frequência", afirmaram os pesquisadores.

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Proibição de WeChat e TikTok por governo Trump pode ter péssimo efeito para usuários dos EUA

Posted: 19 Sep 2020 06:46 AM PDT

Tela de download do TikTok em um iPhone. Crédito:Drew Angerer/Getty Images

O governo Trump mal se deu ao trabalho de sustentar seu caso de que o uso de poderes emergenciais para forçar a venda das operações do TikTok nos EUA se baseia em preocupações de segurança cibernética. Na verdade, as autoridades do país estão preparando o terreno para um colapso que a própria administração criou.

Embora a Casa Branca tenha citado oficialmente as preocupações com a segurança cibernética ao ameaçar o TikTok e o conglomerado chinês da Tencent, WeChat, com proibições no início deste ano, sua retórica deixou óbvio que eles estão mais interessados em ser duros com a China e o Partido Comunista, além de verem a venda do TikTok como uma oportunidade de negócio lucrativo. A última medida do governo, um anúncio feito nesta sexta-feira (18), de que as lojas de apps nos EUA devem deixar de hospedar o TikTok ou o WeChat nas próximas semanas, deixa isso claro.

O Departamento de Comércio dos EUA, que preside o comitê de investimento financeiro que vai determinar se o negócio vai ser aprovado, disse que a partir de 20 de setembro, a PlayStore e a App Store devem parar de distribuir o TikTok e o WeChat, bem como suspender qualquer processamento de pagamento por meio do último aplicativo.

Em 20 de setembro, hospedagem, redes de distribuição de conteúdo e outros provedores de serviços serão obrigados a interromper o fornecimento de "funcionamento ou otimização" ao WeChat. As mesmas medidas entrarão em vigor em 20 de novembro para o TikTok — uma decisão impopular para os cerca de 100 milhões de usuários americanos do aplicativo, mas que convenientemente entra em ação após a eleição presidencial — a menos que a ByteDance venda uma participação majoritária do TikTok para uma empresa americana ou chega a outro acordo que satisfaça o Departamento de Comércio.

A Oracle, empresa aliada de Trump, parece perto de fechar tão negócio, mas não se sabe ao certo se está realmente barganhando pelo controle majoritário dos EUA ou se contentando com menos do que isso. Além disso, a proibição pode ser um sinal de que a Casa Branca está insatisfeita com os resultados.

As novas proibições impostas ao Google, à Apple e a outras lojas dos EUA não apenas impedirão que novos usuários façam download de qualquer um dos aplicativos, mas afetarão ativamente a segurança, evitando que os desenvolvedores corrijam vulnerabilidades. Se o TikTok tiver qualquer bug conhecido pelos criminosos agora ou descoberto por eles mais tarde, os usuários americanos serão impedidos de baixar patches de segurança do Google Play ou da App Store, expondo suas informações privadas e seus telefones a hackers.

Esta seria uma situação funcionalmente equivalente ao que é conhecido como zero-day exploit — uma situação na qual um agente malicioso descobre uma vulnerabilidade antes que o desenvolvedor tenha a chance de corrigi-la. Nesse caso, não importaria se os desenvolvedores do TikTok descobrissem sobre o bug antes de um exploit ser utilizado, porque eles não seriam capazes de consertá-lo a menos que o banimento fosse suspenso.Ele também forçará qualquer pessoa que queira baixar o TikTok ou o WeChat a usar métodos alternativos e mais arriscados, como jailbreak de dispositivos ou, no caso do Android, baixar o arquivo de instalação APK de algum repositório desconhecido, que costuma ser fontes de malware.

"Permitir que os usuários mantenham o uso do aplicativo e o mantenham instalado, enquanto corta o acesso às atualizações de segurança é incrivelmente irresponsável e perigoso — provavelmente criando um problema de segurança maior do que esta ação está tentando evitar", disse Topher Tebow, analista de segurança cibernética da Acronis, ao Gizmodo. "Sem atualizações de segurança, qualquer nova vulnerabilidade se torna uma forma bem conhecida de atacar cidadãos americanos, criando uma grande oportunidade para qualquer golpista, desde script kiddies básicos a atacantes patrocinados por estados".

Expor os 100 milhões de usuários ativos mensais do TikTok nos EUA a esse risco é igual, senão maior, que a ameaça à segurança que a Casa Branca usou para justificar a proibição: a possibilidade retórica de agências de inteligência chinesas ordenaram que a ByteDance entregasse dados de usuários americanos. O TikTok coleta muitos dados, mas práticas semelhantes são comuns em toda a web e, como relatou o Gizmodo, os espiões chineses poderiam obter dados semelhantes e ainda mais granulares comprando, copiando ou interceptando-os enquanto estão circulando por alguma rede mundial de uma adtech.

O chefe de tecnologia da Obsidian Security, Ben Johnson, ex-engenheiro da NSA (Agência Nacional de Segurança), alerta que a internet criou um mundo globalmente conectado, mas está agora atingindo um estágio de "fragmentação e compartimentação". Johnson apontou para as restrições em torno dos apps chineses e a introdução de leis de privacidade mais rígidas na Europa.

"Tecnologias online, compartilhamento de dados e como usamos nossos dispositivos inteligentes no dia a dia continuarão a parecer diferentes, dependendo de onde você estiver no mundo", escreveu ele ao Gizmodo.

"Com as restrições recentes ao TikTok e ao WeChat, a primeira preocupação de segurança em nível individual será a falta de atualizações de segurança, criando assim uma população ainda mais vulnerável usuária de dispositivos inteligentes de consumo", acrescentou Johnson. "Até que tudo isso acabe, é melhor ter um melhor conhecimento dos apps que você está usando e, mais importante, por que você precisa deles".

Isso tudo se soma a outros sinais estranhos sobre como a Casa Branca lidou com as proibições de TikTok e WeChat. Isso inclui a tentativa flagrantemente ilegal de Trump de extorquir pagamentos "muito significativos" de um eventual comprador do TikTok, o processo completamente arbitrário que levou os aliados de Trump na Oracle a fechar um acordo que não chega perto de cumprir os termos das diretivas originais do presidente, e os inúmeros exemplos anteriores da Casa Branca abusando de poderes de emergência para objetivos abertamente partidários. O Departamento de Justiça não explicou por que não está considerando outros apps da Tencent com dezenas de milhões de usuários nos EUA.

"Esta ordem viola os direitos da Primeira Emenda das pessoas nos Estados Unidos ao restringir sua capacidade de se comunicar e realizar transações importantes nas duas plataformas de mídia social", escreveu Hina Shamsi, diretora do projeto de segurança nacional da ACLU, ao Gizmodo. "A ordem também prejudica a privacidade e a segurança de milhões de usuários do TikTok e WeChat existentes nos EUA, bloqueando atualizações de software, que podem corrigir vulnerabilidades e tornar os aplicativos mais seguros".

"Ao implementar o abuso de poderes de emergência do presidente Trump, [o secretário de comércio Wilbur Ross] está minando nossos direitos e nossa segurança", acrescentou Shamsi. "Para realmente abordar as questões de privacidade levantadas por plataformas de mídia social, o Congresso deve aprovar uma reforma abrangente de vigilância e forte legislação de privacidade de dados do consumidor".

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