segunda-feira, 2 de março de 2020

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O nariz gelado do seu cão pode ser um sensor para detectar calor à distância

Posted: 01 Mar 2020 12:22 PM PST

O incrível nariz canino é mais impressionante do que pensávamos, demonstrando a capacidade de detectar fraca radiação infravermelha à distância, de acordo com uma nova pesquisa.

O rinário – a ponta fria, úmida e nua do focinho de um cachorro – é capaz de detectar fraca radiação térmica, de acordo com uma nova pesquisa publicada nesta sexta-feira (28) no Scientific Reports. O nariz canino, portanto, além de captar os aromas, serve efetivamente como um sensor de radiação térmica.

Em vez de detectar calor por condução (contato direto entre superfícies) ou convecção (calor transferido por um meio como o ar), o nariz pode detectar diretamente a radiação infravermelha fraca liberada por um corpo ou objeto quente através de fótons. Essa habilidade ajudaria o carnívoro a detectar presas de sangue quente. A descoberta foi feita por uma equipe colaborativa da Universidade Lund, na Suécia, e da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, que são os primeiros a relatar essa capacidade em cães ou em qualquer mamífero carnívoro.

Sim, os cães têm nariz, ou rinário, frio, como ilustra essa imagem termográfica.

Outros mamíferos, como toupeiras e guaxinins, têm rinários, que eles usam para sensibilidade tátil. Esse tipo de sensibilidade, no entanto, é reduzido em mamíferos com rinário frio, como cães, levando os cientistas a suspeitar que ele seja usado para algo diferente do senso tátil.

Dito isto, há uma exceção no reino animal: as víboras, às vezes chamadas de cobras crotalinas. Esses répteis têm órgãos sensíveis localizados entre cada olho e narina, que operam de maneira ideal a baixas temperaturas, permitindo que as cobras atinjam suas presas com extrema precisão.

Inspirados pelas víboras, os pesquisadores, liderados por Anna Bálint, da Universidade de Lund, se perguntaram se lobos e outros carnívoros que caçam grandes mamíferos também teriam a capacidade de detectar sinais infravermelhos fracos emanados de suas presas quentes.

Agora, a capacidade de sentir o calor remotamente pode não parecer grande coisa. Um ser humano segurando a mão sobre um fogão quente certamente pode sentir o calor. A diferença aqui, de acordo com Bálint, tem a ver com os diferentes mecanismos de transferência de calor, dos quais existem pelo menos três tipos básicos: condução térmica, convecção térmica e radiação térmica.

Na condução, o calor é transferido através do contato direto entre dois objetos, enquanto na convecção o calor é transferido através de um meio, como um fluido ou gás. No caso da radiação, o calor é transferido via fótons como radiação eletromagnética e pode até acontecer no vácuo, disse Bálint ao Gizmodo em um e-mail.

“Então, nós humanos – e também os cães – temos termorreceptores em nossa pele e podemos sentir o calor por todos os meios de transferência de calor”, por exemplo, “podemos sentir o calor do sol em nossa pele através de radiação térmica”, escreveu Bálint. “A diferença aqui é que se trata de radiação térmica de intensidade muito baixa – ou radiação térmica fraca – porque a temperatura dos corpos dos mamíferos que a emitem não é muito alta, ao contrário do Sol, por exemplo". Isso significa que um animal precisa ter “sensores muito sensíveis para detectá-lo”, disse ela ao Gizmodo.

Bálint e seus colegas ainda não sabem como esse sentido poderia funcionar em cães, mas eles sabem que, entre animais muito sensíveis ao calor, como as cobras crotalinas, o "mecanismo de recepção da radiação térmica não é qualitativamente diferente de outros tipos de termorecepção, é simplesmente muito mais sensível", disse ela.

Para testar essa suposição de que os carnívoros podem usar seu rinário para detectar fraca radiação térmica, os pesquisadores realizaram dois conjuntos de testes em cães, que compartilham um ancestral evolutivo comum recente com os lobos modernos.

O primeiro teste, realizado na Universidade de Lund, envolveu três cães treinados para detectar o calor que emana de um objeto. Esse objeto media 102 milímetros de largura e foi aquecido em torno de 11 a 13 graus Celsius acima da temperatura ambiente, para imitar a temperatura corporal de um mamífero peludo. Um segundo objeto, o controle, tinha uma temperatura neutra igual ao ambiente.

Nesta imagem do termógrafo, um cachorro escolhe corretamente o objeto mais quente. Imagem: A. Bálint et al., 2020/Scientific Reports

Durante o teste, esses dois objetos foram colocados a cerca de 1,6 metro de distância dos cães, o que os pesquisadores descreveram como uma distância razoável de caça. Os cães tiveram que detectar o objeto mais quente, mas a essa distância.  É importante ressaltar que os objetos não eram visualmente distinguíveis – ambos eram cobertos pela mesma fita isolante preta e os próprios treinadores não sabiam qual dos dois objetos era o correto (portanto, eram incapazes de influenciar os cães, mesmo que inconscientemente).

“Todos os três cães puderam detectar estímulos de fraca radiação térmica em experimentos duplo-cegos”, segundo o estudo.

A segunda fase do teste, realizada na Universidade Eötvös Loránd, observou 13 cães colocados dentro de um scanner de ressonância magnética. Os animais foram expostos a objetos semelhantes – um quente e outro à temperatura ambiente – enquanto seus cérebros eram examinados. Quando expostos ao objeto quente, o córtex somatossensorial esquerdo em seus cérebros se acendeu, apontando para uma maior resposta neural ao estímulo térmico mais quente.

“Demonstrar que existe uma região no córtex que responde mais a um objeto mais quente do que a uma temperatura ambiente complementa e dá mais suporte aos resultados comportamentais”, disse Bálint.

Analisadas em conjunto, essas evidências sugerem que cães, e possivelmente lobos e outros carnívoros com rinários frios, são capazes de detectar fraca radiação térmica à distância e que essas informações podem ajudar na caça. Os morcegos são o único outro mamífero com capacidade semelhante e usam essa habilidade para encontrar áreas da pele ricas em sangue.

O rinário foi considerado o órgão mais provável responsável pela capacidade, já que nenhuma outra parte da anatomia canina, além dos olhos, era considerada capaz disso, segundo os pesquisadores.

“Existem apenas dois pedaços de pele nua na face do cachorro que podem receber radiação de calor: os olhos e o rinário”, escreveu Ronald Kröger, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Lund, em um e-mail para o Gizmodo. “Os olhos não são adequados para receber radiação infravermelha, porque as estruturas sensíveis estão escondidas atrás de uma espessa camada de tecido”.

É importante ressaltar que os pesquisadores não realizaram um teste para verificar se essa habilidade recém-descoberta realmente ajuda os cães a encontrar presas. Os cães foram capazes de detectar os objetos quentes a uma distância de 1,6 metros, o que parece uma distância relativamente próxima. Como essa capacidade pode ajudar em um cenário de caça no mundo real permanece uma pergunta sem resposta.

Ao mesmo tempo, nenhum mecanismo celular ou molecular foi identificado na nova pesquisa que pudesse ser atribuído a essa capacidade, nem os pesquisadores mediram os comprimentos de onda exatos aos quais os cães são sensíveis. Dito isto, Kröger suspeita que células especiais no rinário sejam sensíveis aos fótons infravermelhos, provavelmente em comprimentos de onda inferiores a 7 micrômetros.

“O mecanismo exato da termorecepção ainda não está claro”, disse Bálint ao Gizmodo. “A estrutura do rinário do cão é diferente dos órgãos sensíveis ao infravermelho conhecidos, como das cobras crotalinas, então pode ser que os mecanismos celulares-moleculares subjacentes sejam diferentes”.

Pesquisas futuras devem agora se concentrar nessas lacunas e também considerar outros mamíferos. Futuramente, Bálint disse que sua equipe gostaria de determinar os limites do sentido, investigar os detalhes moleculares do processo e testar as habilidades de outras espécies.

De fato, a habilidade dos cães de sentirem radiação térmica fraca é uma descoberta fascinante e certamente merece um estudo mais aprofundado. A próxima vez que seu cachorro o cutucar com o nariz molhado e desconfortavelmente gelado, talvez você possa apreciar melhor a ciência por trás disso.

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Os detalhes do segundo caso de coronavírus no Brasil

Posted: 01 Mar 2020 10:24 AM PST

Estrutura do novo coronavírus COVID-19

O Ministério de Saúde informou neste sábado (29) o segundo caso de coronavírus no Brasil. Agora, há mais detalhes sobre o paciente: se trata de um homem de 32 anos, residente de São Paulo, que chegou da Itália no dia 27 de fevereiro de voo procedente de Milão (Itália), na região da Lombardia (norte do país), quando também iniciou os sintomas.

Ele foi atendido no Hospital Israelita Albert Einstein no dia 28 de fevereiro e afirmou ter usado máscara durante todo o voo. Ele estava acompanhado de sua esposa, que não apresenta sintomas. Foi o único contato domiciliar que teve.

O paciente relatou febre, tosse, dor de garganta, mialgia (dor muscular) e cefaléia (dor de cabeça). O quadro clínico é leve e estável e, por isso, ambos estão em isolamento domiciliar e monitoramento diário pela Secretaria Municipal de Saúde São Paulo.

O Ministério da Saúde considerou como final o teste realizado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, com o exame específico para SARS-CoV2. O hospital foi orientado a enviar uma alíquota da amostra do paciente para o Instituto Adolfo Lutz para monitoramento genético do vírus – deste modo, cientistas poderão fazer o sequenciamento do RNA e obter detalhes sobre a origem, possíveis mutações e ajudar a comunidade internacional no desenvolvimento de vacinas e testes.

A investigação de contatos próximos durante o voo e outros locais está em curso por meio das secretarias estadual e municipal, em conjunto com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O incidente não está relacionado com a primeira confirmação, que aconteceu no começo da semana, embora o novo paciente também tenha viajado à Itália. De acordo com as autoridades brasileiras, não há evidências de circulação do vírus em território nacional.

Os últimos dados liberados pelo Ministério da Saúde apontam que há 182 casos de COVID-19, o nome oficial do coronavírus, em monitoramento. Na última sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o risco global sobre o novo coronavírus para "muito elevado". Esse mesmo nível que o grupo tinha colocado para a situação na China, mas agora em nível internacional. Apesar da mudança, a doença ainda não se tornou oficialmente uma "pandemia".

Dados da OMS apontam que foram confirmados 85.403 casos em todo o mundo, em 54 países. Foram registrados 2.924 óbitos, representando uma letalidade global de 3,4%.

A China representa 93% (75.394) dos casos confirmados e 97% (2.838) do total de óbitos no mundo, com letalidade de 3,6%. Fora da China, há 7% dos casos (6.009), com 86 óbitos, representando uma letalidade de 1,4%.

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Huawei quer se manter na Europa com planos de construir uma fábrica de equipamentos 5G na França

Posted: 01 Mar 2020 08:19 AM PST

Logo da Huawei em estande

O governo dos Estados Unidos alertou os países europeus inúmeras vezes que usar equipamentos de rede da Huawei representaria um risco à segurança dessas nações. Agora, a Huawei quer aliviar esses temores com novos planos de construir uma fábrica para 5G na França.

De acordo com a Reuters, em uma recente coletiva de imprensa, o presidente da Huawei, Liang Hua, disse que a companhia está planejando investir € 200 milhões (R$ 986 milhões) para a construção de uma estação de base móvel que criaria 500 novos empregos e forneceria equipamentos de rede 5G não apenas para a França, mas para todo o mercado europeu.

Há algumas semanas, o Departamento de Justiça dos EUA anunciou que iria denunciar a Huawei, alegando que a empresa tinha conspirado para roubar segredos comerciais, cometer fraudes com escutas telefônicas e violar leis de contra o crime organizado. Em resposta, a Huawei alega que as acusações contra a empresa são infundadas e são meramente medidas protecionistas destinadas a ajudar as empresas americanas, ao mesmo tempo em que depreciam sua imagem.

Os principais aliados europeus dos EUA, incluindo o Reino Unido e a Alemanha, não proibiram completamente o uso de equipamentos de rede da Huawei, permitindo que as operadoras sem fio locais continuem usando equipamentos em certa medida.

Na coletiva de imprensa, Liang afirmou: “Esse local fornecerá para todo o mercado europeu, não apenas o francês. As atividades do nosso grupo são mundiais e para isso precisamos de uma pegada industrial global.”

Não sabemos qual o impacto que isso poderá ter sobre potenciais preocupações de segurança nacional. Embora Huawei tenha mencionado a criação de empregos, não mencionou explicitamente quaisquer alterações ao seu núcleo de tecnologia 5G e não é certo se o presidente francês Emmanuel Macron assinou um plano para esse empreendimento.

Por uma questão política, a França diz que não irá discriminar nenhum fornecedor de equipamento com base em seu país de origem. No entanto, a França exige que todos os fornecedores sejam inspecionados e verificados pela sua agência de cibersegurança, que deve verificar em breve a tecnologia da Huawei. De acordo com a Reuters, fontes da indústria francesa de telecomunicações estão preocupadas que os equipamentos da Huawei sejam vetados, mesmo que uma proibição formal não aconteça.

Com a crescente demanda de redes sem fio mais rápidas, a tecnologia 5G se tornou rapidamente um campo de batalha para muitos países e empresas multinacionais, à medida que buscam atualizar a infraestrutura e promover o crescimento econômico.

Embora a França não tenha nenhuma rede 5G funcionando neste momento, as operadoras locais já começaram a se preparar para esses avanços. A maior operadora francesa, a Orange, já se comprometeu a usar em sua rede equipamentos 5G dos rivais europeus da Huawei, Nokia e Ericsson.

No entanto, operadoras menores como Altice e Bouygues tendem a procurar preços menores, o que torna a tecnologia 5G da Huawei mais atraente, especialmente porque uma grande parte das redes 4G existentes dessas companhias é alimentada por produtos Huawei.

Os EUA ainda podem ter esperança de convencer seus aliados a impedir que a Huawei entre de cabeça na Europa com o 5G. Mas, com os planos da empresa para construir uma nova fábrica, ainda que não talvez não tenham sido aprovados, a Huawei pode estar virando o jogo – e talvez manterá alguma presença no velho continente.

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Carta publicada em revista científica descreve péssima situação de médicos que tratam coronavírus na China

Posted: 01 Mar 2020 06:16 AM PST

No início desta semana, a revista médica britânica The Lancet publicou uma breve correspondência de dois trabalhadores chineses de auxílios médicos que diziam estar atualmente combatendo o surto de coronavírus em Wuhan. A carta, que descreve condições extremas e intoleráveis ​​de trabalho dentro das enfermarias de isolamento, foi repentinamente objeto de uma retratação, sob o que só pode ser descrito como circunstâncias altamente suspeitas.

A correspondência, intitulada “Equipe médica chinesa solicita assistência médica internacional no combate ao COVID-19“, foi publicada na Lancet Global Health na segunda-feira (24). Ela é de autoria de Yingchun Zeng, do Terceiro Hospital Afiliado do Hospital Médico de Guangzhou, e Yan Zhen, do Sun Yet-sen Memorial Hospital em Guangzhou, China.

A Lancet publicou uma retratação sobre esta carta na quarta-feira, 26 de fevereiro. Ela permanece online, mas agora está marcada com várias vezes a palavra “RETRACTED”, que aparece em letras maiúsculas e em vermelho. A publicação forneceu uma explicação breve do motivo pelo qual escolheu fazer uma retratação da correspondência:

Em 26 de fevereiro de 2020, fomos informados pelos autores desta correspondência que o relato não era de primeira mão, como alegaram os autores, e que eles desejavam retirar o artigo. Portanto, tomamos a decisão de retratar esta correspondência.

O fato de os autores da carta fabricarem seus relatos ou os basearem nos relatos de outras pessoas que tinham conhecimento direto da situação é certamente uma possibilidade. Mais plausível é que as autoridades chinesas tenham interferido nesse caso, obrigando os autores a exigir que se retratassem — embora não tenhamos visto nenhuma evidência direta para endossar essa possibilidade.

O conteúdo da carta é perturbador. Na correspondência, Zeng e Zhen alegaram ter trabalhado nas enfermarias de isolamento de Wuhan, desempenhando várias funções, desde fornecer oxigênio aos pacientes, monitorar leituras de eletrocardiogramas, prestar cuidados básicos de enfermagem, entre muitas outras tarefas.

“As condições e o ambiente aqui em Wuhan são mais difíceis e extremas do que poderíamos imaginar”, eles escreveram.

Tradução do tweet: Eu nunca vi um artigo assim na Lancet. Isso não é um estudo, é um pedido de socorro. Trabalhadores das equipes médicas chinesas parecem estar usando publicações acadêmicas para contornar a censura e mandar sua mensagem para o mundo.

Zeng e Zhen descreveram uma severa escassez de equipamentos de proteção em Wuhan, citando acesso insuficiente a máscaras e proteções faciais, óculos, toucas e luvas.

Dizem que as mãos estão sendo lavadas com tanta frequência que os enfermeiros desenvolvem “erupções cutâneas dolorosas” e os respiradores são usados ​​por longos períodos, resultando em úlceras de pressão na testa e nos ouvidos.

Muitos enfermeiros estão com suas bocas cobertas de bolhas, disseram eles, e alguns estão passando por episódios de desmaio por causa de hipoglicemia (baixa glicose no sangue) e hipóxia (oxigênio inadequado), segundo a carta.

Devido ao tempo necessário para vestir roupas de proteção (incluindo quatro camadas de luvas), Zeng e Zhen afirmam que as enfermeiras evitam comida e bebida por até duas horas antes de seus turnos.

Segundo eles, essas condições estão afetando os trabalhadores da saúde psicologicamente.

"Embora sejamos enfermeiros profissionais, também somos humanos. Como todo mundo, sentimos desamparo, ansiedade e medo", escreveram eles. "Enfermeiros experientes ocasionalmente encontram tempo para confortar colegas e tentar aliviar nossa ansiedade. Mas mesmo enfermeiros experientes também podem chorar, possivelmente porque não sabemos quanto tempo precisamos ficar aqui e somos o grupo de maior risco para a infecção por COVID-19."

De fato, esse risco é muito real. Mais de 3 mil trabalhadores da saúde na China foram infectados com COVID-19 até agora e nove faleceram por causa do vírus, segundo a Comissão Nacional de Saúde da China. Cerca de 14 mil trabalhadores de assistência médica de toda a China vieram a Wuhan em apoio às equipes locais, segundo a carta, mas “precisamos de muito mais ajuda”, escreveram Zeng e Zhen, que agora estão “pedindo que enfermeiros e médicos de países de do mundo”. mundo para vir para a China agora, para nos ajudar nesta batalha. "

O Gizmodo perguntou à Lancet Global Health sobre esta situação e por que a revista optou por retirar o artigo. A resposta deles repetiu, em grande parte, o que já havia sido dito.

“Questões a respeito da fundamentação dessa correspondência foram trazidas à tona por vários leitores”, escreveu um porta-voz da Lancet ao Gizmodo em um email. "Além disso, recebemos uma comunicação direta dos autores dessa correspondência (…) declarando que o relato que eles descreveram não era de primeira mão, como alegaram originalmente, e que desejavam retirar a peça. Seguindo o devido processo de acordo com as diretrizes de retração do COPE [Comitê de Ética em Publicações], determinamos que era nosso dever fazer uma retratação a respeito dessa correspondência. "

O porta-voz acrescentou: "Todas as pesquisas originais publicadas no The Lancet Group estão sujeitas a revisão por pares. No entanto, também publicamos alguns conteúdos adicionais, incluindo correspondência, que não passam por esse processo. Nesses casos, adotamos as perspectivas fornecidas pelos autores com base na confiança."

Tradução do tweet: Queria postar o texto real da nota de retratação, pois não é necessariamente o Lancet GH dizendo que não era uma conta em primeira mão; a revista está transmitindo o que os autores disseram. É preciso se perguntar se os autores foram pressionados a se retratar.

Lancet claramente não teve escolha senão fazer uma retratação, dado que os próprios autores admitiram que a correspondência era inapropriada. Além disso, como relata a Reuters, “uma equipe médica enviada pela província de Guangdong para ajudar em Wuhan postou um comunicado on-line em um jornal dizendo que os dois não faziam parte da equipe e que sua descrição das condições não era precisa”.

Não podemos deixar de pensar, no entanto, se Zeng e Zhen foram pressionados pelas autoridades chinesas, possivelmente sob ameaça de prisão, a emitir uma alegação falsa para a The Lancet. Provavelmente nunca saberemos, embora o Gizmodo tenha procurado os autores do artigo retirado para comentar — até agora, nenhuma resposta. Sinistramente, Zhen não apareceu no trabalho hoje, relata a Reuters.

Obviamente, existe a questão maior das condições de trabalho em Wuhan e a precisão geral da carta. As afirmações feitas pelos autores são consistentes com as relatadas em outros lugares, incluindo equipamentos inadequados, úlceras hemorrágicas e enfermeiros exaustos.

Outros depoimentos descrevem que enfermeiras e médicas foram forçadas a raspar a cabeça e que a equipe médica teve que usar fraldas por não poder ir ao banheiro, entre muitas outras dificuldades. Então, sim, a situação dos enfermeiros em Wuhan claramente não é boa, independentemente de a carta da Lancet ser uma descrição fidedigna ou não.

Ao mesmo tempo, a China já mostrou como a banda toca por lá. À medida que essa crise continua se desenrolando, ela tenta controlar o fluxo de informações e eliminar quaisquer críticas ao tratamento dado pelo governo ao surto. Tudo isso é muito lamentável, pois não podemos acreditar em declarações oficiais do governo que atualmente têm mais experiência no combate a esse vírus. Uma atmosfera de desconfiança é certamente algo de que não precisamos durante este período crítico.

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